Procuro neste mundo o que não posso encontrar
Conheci um jovem, por quem muito me afeiçoei. Não posso em poucas linhas, explanar precisamente os motivos que me obrigam a comentar essa declaração, apenas afirmar que tal rapaz é digno dos mais simples e puros elogios que podem ser vociferados pela boca humana. Humilde como um fazendeiro ao qual nunca foi pego pelos prazeres mundanos das cidades, sonhador como antigos filósofos em seus debates depois da ceia, e livre como um cavalo que almeja a inquietude de uma vida de servidão. Um tanto quanto sensível, mas talvez fora essa virtude que me fizera seu amigo, embora nos dias de hoje mal sei se sensibilidade é uma virtude ou um defeito. Sei apenas que quando o olho, em seu mais íntimo pensamento, posso ver-me claramente refletido a mim mesmo. Na analise emblemática do meu ser, põe a prova tudo que sei a respeito de mim mesmo, e na perigosa maneira de me perder em pensamentos, posso ser levado a um lugar onde de lá nunca mais sairei, desencontrado de minha alma, mas quem sabe um dia reerguerei os ombros? Será isso um mal também? Como este meu próprio amigo afirmou-me “Visto que somos assim feitos de modo tudo comparamos conosco e nós a tudo nos comparamos, é evidente que, para nós, a felicidade ou a desgraça residem nos contrastes que vemos ou que julgamos ver. É por isso que não há nada mais perigoso do que a solidão”. Oh! Meu bom amigo se tens razão, será que eu, a medida em que tento me encontrar sozinho para refletir sobre meus problemas, sem que envolva os que me tem afeto, estarei assim cavando minha própria lápide? Tenho medo de perguntar-lhe, pois tenho mais medo ainda da resposta que terá em seu semblante. Sim, esse meu grande amigo, que em muito compartilha de minhas dores, possui denominação. Seu nome é Werther.